21/09/2006

Portuguese do it better

In Diário Economico:

Há vinte anos, um balcão dos CTT era escuro e pesado, as canetas BIC estavam penduradas por um cordel sujo e os selos colavam-se com um pincel pegajoso. Viajar para Coimbra demorava quatro horas, quando não cinco. Os rebuçados vinham de Espanha. O leite em pó também. Faltava água. Existiam dois canais de televisão, quase sempre maçadores. A pobreza remediada percebia-se na rua – pelas roupas, pela pose.

Hoje essa mesma pobreza não se distingue porque a democracia trouxe também o lado doce da sociedade de consumo: moda barata. Há autoestradas que rasgam o país, água canalizada, luz sem falhas, uma rede de banda larga que chega a todo o lado. Livros escritos em muitas línguas nas livrarias, comida de todos os continentes nos supermercados. Existem, também, serviços – o beneficiário transformou-se em cliente nos correios, nos hospitais, nos serviços públicos em geral. Tudo isto vinte anos depois – apenas vinte anos depois.

No dia em que o Compromisso Portugal surge com novas ideias estimulantes e propostas provocadoras, é preciso lembrar o país que temos. Sublinhar, em voz alta, que é um luxo poder discuti-lo no Convento do Beato – um luxo de país rico que já chegou bem longe. Porque as conquistas que hoje se celebram foram responsabilidade de muitos Governos – e de outras tantas políticas públicas. As mesmas que hoje criticamos por falta de visão, de pulsão reformista. O Compromisso Portugal está certo – mas nunca é demais lembrar que só países que chegaram aqui, a este nível de conforto, se podem dar ao luxo de se discutir assim.

E a discussão é conhecida: somos mais pobres do que devíamos, mais incapazes a promover a igualdade social, menos ambiciosos a gerir empresas, menos responsáveis a administrar o Estado. Mas sabemos o que os países verdadeiramente pobres desconhecem: que a nossa vontade pode muito mais. E há duas ideias neste Compromisso que se destacam entre todas as outras.

Uma é defendida por Alexandre Relvas, e pede ao Estado que corte a despesa pública em 1,5% do PIB anualmente durante cinco anos e, no final, reduza a taxa fiscal sobre as empresas (o IRC) para próximo dos 10% – tornando assim o país auto-sustentável e, depois, atractivo para o investimento.
A segunda fala de uma reforma profunda da Segurança Social: emitindo dívida pública, o sistema mudava de uma pirâmide falida para um esquema de partilha de risco em que os descontos eram somados numa conta individual.

Parece pouco, mas é muito. E quando um país gera pessoas e tempo para produzir ideias assim, é porque é um país que pode – pensando-se a si mesmo – tornar-se ainda melhor.

Eu acredito em Portugal!!!!

6 comentários:

Pedro Norte disse...

Videira a Presidente!

Apesar de mta merda k vai acontecendo paralelamente a essa evolução a que te referes eu estou contigo.

Nem tudo é rosas mas, sem dúvida que um discurso optimista, construtivo é meio caminho andadado para o desenvolvimento de uma nação, de uma empresa, de uma equipa, de uma família e até mesmo de uma pessoa.

Não é esta cambada de derrotistas que anda praí e oposição de porcaria, seja ela esquerda ou direita, que ao invés de construir só destrói na ambição de um dia chegar ao poder. Os nossos Media que com mais nada para falarem, só falam do que não sabem.

Uma verdadeira república das bananas que com mais ambição, estrutura e estratégia assentes num discurso moralizador e entusiasmante chegaria mais longe.

Enfim, nunca me atreverei a dizer que vivo pior que os meus avós.

Sushi Master disse...

Atrevo-me a dizer que, quando ouço os chamados de "empresários" a falar de Segurança Social, fico todo arrepiado...

Só espero que, com essa descida do IRC, os salários aumentem.
Sim, uma medida com tomates seria, por exemplo, duplicar o rendimento mínimo. E aí viamos as empresas que se aguentavam. Sim, porque esta política dos salários baixos é um dos nossos cancros.

Já agora, outra medida seria venderem as suas mulheres aos árabes em troca de camelos, para substituir muito director que por aí anda. Para além de consumirem pouco (os camelos claro), acredito que seriam mais eficientes.

Outro cancro, são muitos dos chamados "empresários" que estão no Compromisso Portugal, que mais não fazem do que defender os seus interesses, estando-se a cagar para o crescimento e desenvolvimento do país.

As nossas lideranças (há excepções, of course) são míopes e ainda andam com palas nos olhos como os burros. Só olham em frente e só conseguem pensar a curto-prazo.

Pergunto-me: sendo o trabalhor português emigrante bastante conceituado lá fora, onde é gabado por trabalhar muito e bem, pergunto eu, porque é que cá a produtividade é das piores da UE? Será do clima? Naaa... É que esses "empresários" esqueçem-se (ou fazem-se esquecidos) de que a produtividade não é unicamente da responsabilidade do trabalhador. E os gestores, directores, etc etc - i.e. os "empresários" de uma forma geral - têm uma grande responsabilidade nesse campo. Não é por nada que são pagos a peso de ouro.

Mas não. ah! e tal, pensar custa muito e dá trabalho... Acabe-se antes com o IRC que é melhor para nós...
Grande ideia, sim senhor... Fdx... que corja...

Anónimo disse...

Escrevi este editorial sob o título 'Portugal Positivo' no 'Diário Económico' só para sacar publicidade à Galp (pelo título) e à Vodafone (pela promoção da iniciativa do Carrapatoso).

Quanto ao resto... a verdade é que Portugal se encontra no último lugar da Europa dos 25 em qualquer índice: da economia à saúde, da educação à tecnologia, da cultura ao civismo. Se não fosse negativo para as vendas do jornal, tinha dado como título ao editorial "O Cú da Europa".

O 'compromisso de Portugal' é com a pobreza material e espiritual, isto para os padrões da Europa que é onde nos encontramos. O mal está, obviamente, nos portugueses.

Boas leituras.
Martim Avillez Figueiredo

Anónimo disse...

Temos um record do Guiness em telemóveis!

Now

viddy disse...

Claro que nem tudo são rosas, mas a filosofia que acho que deve ser seguida, é de optimismo, tal como na liderança, ideias derrotadas, são meio caminho para maus resultados. Acredito que só com optimismo podemos lá ir, e esta é uma ferramenta que o Sócrates utiliza com muita mestria, e ainda bem.
Mas o Sushi Master tocou na ferida, a qualidade e qualificação dos recursos humanos portugueses, principalmente o líder e gestor médio...que do meu ponto de vista é uma verdadeira desgraça, sem visão, sem estratégia, e mesmo sem missão, prendem a evolução de recursos validos só para manter as suas regalias...
Custa-me muito dizer isto, mas na estrutura das organizações, e de alguma sociedade, o problema não é o pais...são os portugueses...algo que eu lamento profundamente...ate porque já tive experiências no estrangeiro, e sei que nós somos melhores, muito melhores do que eles..acreditem.
A proposta apresentada para a segurança social, é excelente, e eu só espero, que com esta proposta, ou com outra qualquer, exista uma profunda mudança do sistema da segurança social...porque senão ainda vou acabar em casa dos meus netos...Quais netos? Quais filhos? bem mas isso é outra conversa...

Sushi Master disse...

Ui, o director do Jornal Económico, aqui... este blog está a ficar demasiado sério...

Nem tinha reparado que o texto tinha sido uma citação integral do editorial do Diário Económico. Usa as aspas da próxima vez viddy!! E a pensar que tinhas sido tu a escrever isto... tsk tsk...).

Martim Figueiredo (se é de facto o Martim Figueiredo que escreveu o comentário assinado com esse nome):

É pena estar a culpar "os portugueses" - esta eterna massa indefinida que é facilmente atacada! Compreende-se. O grupo "os portugues" não tem consciência de classe, tirando - vá lá - as alturas em que joga a selecção.

Mas é mais do que óbvio que o mal está cá dentro!!! O que é que íamos fazer? Armados em Salazar, gritar "são os outros! são os outros!"?

Entristece-me ver que são sempre "os portugueses" (ou "o Portugal") a levarem na tromba sem se procurar onde é que há mais ou menos problemas. A minha formação não é em economia nem em gestão, mas foi-me ensinado que, para se ser objectivo e não cair em juízos generalistas, há que ter cuidado com as especificidades do fenómeno em questão.

Já agora, gostava de saber se, no "compromisso Portugal", no meio de tantos líderes de empresas e afins, temos investigadores. Sim, esses que estudam os fenómenos sociais, económicos, financeiros, que procuram as razões de problemas, e indicam pistas para as suas resoluções. Sendo um compromisso para com o país, não seria melhor alargar-se o espectro dos intervenientes?

Já agora, quando diz que somos os últimos dos 25, acredito que seja a sua veia de jornalista a querer 'dourar a pílula', portanto abstenho-me de comentar.


Vou ser sincero. Até que apreciei o texto (e tenho uma boa opinião do que geralmente o Martim Figueiredo escreve), só que não vou à bola com essa iniciativa. Acredito que haja por lá "gente de bem", mas a maioria mete-me nojo...

Os melhores cumprimentos, e vá aparecendo. Mas não fique com a ideia errada. 99% do tempo deste blog resumem-se a parvoíces.