Até parece que foi de propósito. Aqui vai um texto do Pacheco Pereira (por acaso últimamente até que tem escrito coisas de jeito, leia-se por exemplo, a crónica desta semana n' O Público sobre o Papa), acerca do Compromisso Portugal. Mais achas para a fogueira:
"Há casos em que a distinção entre “sociedade civil” e mundo político é perversa e enganadora. Um deles, evidente como um enorme reclame de néon, é o do Compromisso Portugal. A iniciativa é política até ao tutano, traduzindo a politização do nosso mundo de gestores (e em menor grau de empresários, menos representados na reunião), mas afirma parar à porta da política, quer-se dizer da política partidária, mecanismo pelo qual nas democracias se conseguem os votos para governar.
O resultado é uma sensação de grande irrealidade. As propostas não são novas, mas isso seria apenas uma questão mediática que em nada invalidava a sua oportunidade. A questão é outra: é que, sabendo-se o que se deseja, nenhuma resposta é dada à questão de como realizá-lo, de como chegar lá. Que forças sociais podem ser mobilizadas, como se traduzem esses movimentos em votos, como se organizam e expressam politicamente para terem eficácia em democracia? Sim, porque em democracia o lobiismo de movimentos proto-políticos que não tem expressão partidária, nem vai às urnas, é apenas e só lobiismo. E o lobiismo, o mexer das influências, quando feito em público, sem sequência, nem consequência, fica mais fraco pela repetição. De cada vez que se repete a mesma coisa, sem acrescentar meios nem apontar instrumentos, a sensação de impotência cresce.
Eu também penso que há excesso de hegemonização da vida política pelos partidos e que é bom que haja outros parceiros activos na vida pública. Mas, a não ser que se queira apenas ser lobiista (e é isso o que muitos destes gestores sabem fazer bem nos meandros do poder, logo convencem-se que isso pode ser transposto para os eleitores) seria melhor usar os recursos disponíveis para intervir na sociedade civil para formar opinião. Formar opinião: invistam em think tanks, em estudos sérios, em jornais e revistas, em conferências, em ensino de excelência não apenas para as empresas mas para a actividade cívica, apoiem iniciativas modelo que mostrem a eficácia das propostas, etc, etc. Apoiem os políticos e os partidos que melhor pensam poder expressar essas propostas. Às claras, para se saber. Sem receios. Ou então façam um partido político e concorram às eleições, uma solução que daria uma grande legitimidade ao movimento e acabaria com algumas ambiguidades sobre as naturais ambições de alguns dos seus proponentes. E acima de tudo dêem o exemplo, a melhor das propagandas.
É um trabalho moroso e que só dá frutos a prazo, mas o único que pode ser eficaz. É que reunirem-se em fileiras cerradas, direitos e compostos, numa imagem sem qualquer modernidade e apelo, como qualquer especialista de marketing vos poderá dizer, com os jornais a divulgarem promessas com a mesma consistência das promessas eleitorais dos políticos, dá a pior das imagens e serve mal muitas das propostas com as quais concordo. Só que o mundo dos portugueses não tem a ordem asséptica das cadeiras do Beato e esse é que é o problema que o Compromisso Portugal não quer pensar, ou não sabe pensar, ou não pode pensar."
In Abrupto
http://abrupto.blogspot.com
22/09/2006
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1 comentário:
O problema não esta nos funcionários do estado(também, mas não só), esses são apenas 700 mil num universo de 5.700.000 trabalhadores em Portugal. O problema como diz e bem o P.Pereira, é o empresário da pequena e média empresa, que não tem visão estratégica nenhuma. Ao passo que em países mais desenvolvidos uma empresa tem mais do que por e simplesmente ganhar dinheiro, tem um carácter social, cívico, e por vezes cultural, aqui em Portugal tem apenas um objectivo estratégico, ganhar dinheiro, de preferência enganado os outros...e isto não é culpa do Espanhóis, dos Franceses, dos Italianos, dos Gregos, dos Holandeses, dos Britânicos, muito menos dos Escandinavos, a culpa é dos portugueses, e da sua cultura. O problema do estado português é real, mas não explica tudo...
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