22/09/2006

Ainda na senda do Compromisso Portugal

Até parece que foi de propósito. Aqui vai um texto do Pacheco Pereira (por acaso últimamente até que tem escrito coisas de jeito, leia-se por exemplo, a crónica desta semana n' O Público sobre o Papa), acerca do Compromisso Portugal. Mais achas para a fogueira:

"Há casos em que a distinção entre “sociedade civil” e mundo político é perversa e enganadora. Um deles, evidente como um enorme reclame de néon, é o do Compromisso Portugal. A iniciativa é política até ao tutano, traduzindo a politização do nosso mundo de gestores (e em menor grau de empresários, menos representados na reunião), mas afirma parar à porta da política, quer-se dizer da política partidária, mecanismo pelo qual nas democracias se conseguem os votos para governar.

O resultado é uma sensação de grande irrealidade. As propostas não são novas, mas isso seria apenas uma questão mediática que em nada invalidava a sua oportunidade. A questão é outra: é que, sabendo-se o que se deseja, nenhuma resposta é dada à questão de como realizá-lo, de como chegar lá. Que forças sociais podem ser mobilizadas, como se traduzem esses movimentos em votos, como se organizam e expressam politicamente para terem eficácia em democracia? Sim, porque em democracia o lobiismo de movimentos proto-políticos que não tem expressão partidária, nem vai às urnas, é apenas e só lobiismo. E o lobiismo, o mexer das influências, quando feito em público, sem sequência, nem consequência, fica mais fraco pela repetição. De cada vez que se repete a mesma coisa, sem acrescentar meios nem apontar instrumentos, a sensação de impotência cresce.

Eu também penso que há excesso de hegemonização da vida política pelos partidos e que é bom que haja outros parceiros activos na vida pública. Mas, a não ser que se queira apenas ser lobiista (e é isso o que muitos destes gestores sabem fazer bem nos meandros do poder, logo convencem-se que isso pode ser transposto para os eleitores) seria melhor usar os recursos disponíveis para intervir na sociedade civil para formar opinião. Formar opinião: invistam em think tanks, em estudos sérios, em jornais e revistas, em conferências, em ensino de excelência não apenas para as empresas mas para a actividade cívica, apoiem iniciativas modelo que mostrem a eficácia das propostas, etc, etc. Apoiem os políticos e os partidos que melhor pensam poder expressar essas propostas. Às claras, para se saber. Sem receios. Ou então façam um partido político e concorram às eleições, uma solução que daria uma grande legitimidade ao movimento e acabaria com algumas ambiguidades sobre as naturais ambições de alguns dos seus proponentes. E acima de tudo dêem o exemplo, a melhor das propagandas.

É um trabalho moroso e que só dá frutos a prazo, mas o único que pode ser eficaz. É que reunirem-se em fileiras cerradas, direitos e compostos, numa imagem sem qualquer modernidade e apelo, como qualquer especialista de marketing vos poderá dizer, com os jornais a divulgarem promessas com a mesma consistência das promessas eleitorais dos políticos, dá a pior das imagens e serve mal muitas das propostas com as quais concordo. Só que o mundo dos portugueses não tem a ordem asséptica das cadeiras do Beato e esse é que é o problema que o Compromisso Portugal não quer pensar, ou não sabe pensar, ou não pode pensar."

In Abrupto
http://abrupto.blogspot.com

1 comentário:

viddy disse...

O problema não esta nos funcionários do estado(também, mas não só), esses são apenas 700 mil num universo de 5.700.000 trabalhadores em Portugal. O problema como diz e bem o P.Pereira, é o empresário da pequena e média empresa, que não tem visão estratégica nenhuma. Ao passo que em países mais desenvolvidos uma empresa tem mais do que por e simplesmente ganhar dinheiro, tem um carácter social, cívico, e por vezes cultural, aqui em Portugal tem apenas um objectivo estratégico, ganhar dinheiro, de preferência enganado os outros...e isto não é culpa do Espanhóis, dos Franceses, dos Italianos, dos Gregos, dos Holandeses, dos Britânicos, muito menos dos Escandinavos, a culpa é dos portugueses, e da sua cultura. O problema do estado português é real, mas não explica tudo...