11/09/2008

Romaria Lusa ao AlvaLidl

Nada fazia crer que a noite ia acabar de forma inglória, tal é a aura mítica que este estádio tem, pleno de vitórias internacionais. A imagem de marca é desde logo o escudo do Lidl, redondo como convém e sobressaliente nas suas cores vivas de loja de desconto para famílias das classes C, D e afins.

Nunca gosto de ir sem bilhete, mas já basta ir à arrastadeira; ir também à bilheteira da arrastadeira está fora de questão. Assim, quatro orgulhosos lampiões aguardavam que o lagartão que se voluntariou para a logística bilhetal desse à costa. Aparentemente estávamos todos no mesmo sítio: “roulottes debaixo da 2ª circular”. Como viemos a descobrir mais tarde, para um lagartão que vai a 15 jogos por época, a linha de metro é a 2ª circular. Isso explica muita coisa…

A bifana propriamente dita é digna da tradição secular da Quinta do Lambert: Menos gordura e febra de porco criado em verdes pastos da herdade do Esporão. Faltam os couratos do Alto dos Moinhos e a gordura subjacente, que se limpa nas costas do companheiro de bola mais à mão, com fortes pancadas nas costas, para o ajudar a deglutir. A meu ver, nota positiva para esta bifana mais higiénica e menos popular, mantendo generosidade nas porções.

Ir ao AlvaLidl com um membro activo dos NoName Boys é como participar num filme de acção e espionagem. Aparentemente um fogo mal resolvido num pneu duma viatura dum membro da Jubileo, tornou-o proscrito no WC, pelo que tive sempre a sensação de estar a ser perseguido e prestes a ser atacado por um bando de ferozes vingadores. Seria um deles aquele careca de 1,5 metros, com cachecol da Jubileo e t-shirt de pitinha com a tromba do Cristiano Ronaldo, que não parava de fitar o nosso companheiro? Pouco depois, quando fomos abordados por dois skinheads a perguntar pela porta 1, vou jurar que o proscrito se borrou todo e isso condicionou-lhe mais a movimentação nesta conspiração vingativa.

Já quanto ao jogo, e não sendo eu um conhecedor profundo da nova linguagem que se utiliza nos comentários televisivos, como passe de ruptura ou verticalização do jogo pelas laterais, prefiro ilustrar o desacerto da equipa lusa com uma citação mais terra a terra do gordo que estava à minha frente: “passa a bola, caralho!” Efectivamente, passes que tardavam ou eram interceptados pelos capacetes dos Vikings e remates para fora foram a tónica do jogo. Já na apreciação individual, tomei as seguintes notas em destaque, enquanto tentava não adormecer.

Berbequim: Um ser iminentemente instintivo. Sempre atento, a tentar remover o brinco do marcador do 2º golo dinamarquês, que como se sabe é proibido pela FIFA. Fez lembrar o grande GR Javardo, embora com voz de homem.

Deco/Proteste: Tem um conjunto de sobrancelhas que mete um tapete persa a um canto. No meio dos ácaros, ainda consegue ter alguma visibilidade para o terreno de jogo, passando a bola invariavelmente para todos (incluindo Dinamarqueses), excepto o Texugo Almeida.

Texugo Almeida: A estrela da equipa, o verdadeiro Macacula branco. Uma autêntica tábua daquelas de mogno antigo, dotado de excelente técnica individual mas noutro desporto qualquer ainda por descobrir.

Narani: Jogador impulsivo e batalhador. Finta todos, incluindo os fotógrafos e roupeiros. A sua carreira passará pelo futebol de praia ou pelo Cirque de Soleil, mas só no próximo verão. Fez um bom golo a passe do mítico Texugo Almeida.

Simão Gasosa: Talvez distraído pelas dinamarquesas, esteve longe do fulgor doutros tempos quando, ao menos, acertava na trave. Ainda assim, conseguiu descortinar na bancada o gajo que andava a mandar SMSs à mulher e rematou-lhe com a bola nas ventas quando tinha tudo para fazer o golo.

Nuno Cabelos: O jogador dos grandes momentos, embora lhes chegue sempre atrasado. No lance em que falhou um golo de baliza escancarada, não se lhe podia pedir mais, porque nem na bola costuma acertar. Uma evolução a acompanhar.

Eça de Queirós: De ar sério, continua a contabilizar simultaneamente quanto corre cada jogador, quantos toques dá na bola e o número de hits na página do CR7, como lhe pedia o Alex Esfregochão nos tempos do Manchester Desunited. Talvez por isso, distraiu-se um pouco com as horas e com as substituições, tendo tentado em desespero tirar Karalhsen, o futuro marcador do terceiro golo dinamarquês, para pôr o Emplastro. Caso as leis da FIFA o permitisse, e admitindo que o Emplastro não conseguiria marcar um golo ao Berbequim, Portugal ao menos empatava. À atenção do Dr. Felisberto Madaíl, para apresentar recurso na próxima reunião magna do futebol mundial.

1 comentário:

Dezperado disse...

Epá o Estadio de Alvalade ainda faz dor de cotovelo a muita gente... Esse sentido de inferioridade é cada vez maior nos lamps em relação ao grande Sporting. Mas concordo, o jogo deveria se ter realizado naquele quartel de bombeiros que existe em frente ao Colombo, já que foi onde a selecção fez um dos maiores feitos da história, quando foram enrabados pelos Gregos. Como os grande jogos internacionais este ano vão resumir-se a receber o Napoles, deveriam ter realizado lá o jogo da selecção!