30/08/2006

Um Mulher com M grande

Numa viagem de comboio entre três países do centro da Europa, li o livro "Bilhete de Identidade", escrito por Maria Filomena Mónica. Estava muito céptico em relação ao livro, no entanto acabou por ser uma boa surpresa, principalmente no papel da mulher na sociedade Portuguesa. Acabei por concluir que para Maria Filomena Mónica a ideologia dominante sobre a função da mulher alterou-se menos do que eu pensava, mas falo no caso dela, muito á frente (Alfredo para os amigos) do tempo dela (década de 60 no Portugal Salazarista). O livro acaba por se transformar num retrato sociológico e ontológico da sociedade portuguesa. Queria fazer umas transcrições de alguns textos que li da autora, no entanto seriam tantos, que perderia o fio á meada, mas aconselho uma leitura a um artigo fabuloso "As mulheres portuguesas são parvas"(o titulo pode parecer ofensivo, mas antes pelo contrario, é uma defesa da mulher muito vanguardista).

Mas o que me levou a escrever este artigo, foi outra leitura mais "fresquinha", de Domingo, com o titulo "Nós, os Portugueses" - M.Filomena Mónica. "Quando aplicada a nações a abordagem psicologicamente é desagradável. Engraçados, estes estereótipos mais não são caricaturas do que apropriadas para charlas: os belgas seriam maçadores, os franceses chauvinistas, os alemães eficientes, os escoceses forretas, os espanhóis barulhentos, os irlandeses bêbados, os ingleses fleumáticos, os suecos frios, os gregos hirsutos e, segundo a versão post-modernista os portugueses teriam medo de existir. Ora, como isto não se me aplica, tenho de concluir estar errada a nacionalidade que o passaporte me atribui." "...é por a identidade portuguesa ser um tema nebuloso que prefiro aborda-lo indirectamente, lendo por exemplo o que sobre nós escreveram os estrangeiros....os protestantes sempre consideraram com horror o papel da Igreja Católica sobre o bom povo..." "Outra forma, ainda mais idiossincrática, de se olhar o país consiste em relembrar as frases dos seus filhos mais ilustres proferiram, alguns no leito da morte. Rodrigo da Fonseca terá dito - Nascer entre brutos, viver entre brutos é triste. Alexandre Herculano, o intelectual do regime "Isto (o país) dá vontade de a gente morrer" "A memória de uma nação é a base da sua identidade. É por isso que considero que, sem uma historiografia rica, viva e polémica, o debate sobre as características nacionais é uma imbecilidade"

Desculpem se me alonguei, mas esta Mulher é grande! Há quem não goste, e denomine por "Morangos com Açucar dos intelectuais", mas...aqui fica, com M grande..

15 comentários:

Sushi Master disse...

Engraçado. Já é a segunda vez que leio um texto desta senhora e reparo que ela, ou ameaça emigrar, ou não se considera portuguesa. Pessoalmente preferia que ela emigrasse.

Não que a ache a "morangos com açucar" dos intelectuais. A nível científico, acho-a uma historiadora espantosa e de grande qualidade. Mas quando saltamos para a parte opinadora, acho-a uma parva de estalo. A típica menina mimada que sabe tudo e tem sempre razão.

Quanto aos portugueses, a ideia de termos medo de existir e de sermos tristes e de estarmos deprimidos é uma moda recente e uma estupidez. Não existem dados históricos que permitam verificar que esta ideia estereotipada tenha existido antes do Estado Novo. Na Idade Média então seria mesmo impossível de encontrar. Afinal de contas, descobrimos metade do mundo, e acredito que seria improvável que isso acontecesse se fossemos - já na altura - estereotipados como tristes, deprimidos e com medo de existir.

Sushi Master disse...

Ah! Gostei muito da biografia que ela fez do Eça de Queirós. Vale a pena ler para quem gosta do autor.

viddy disse...

Sushi Master, atenção que eu limito-me a transcrever uma crónica dela.
Não concordo contigo quando dizes que é uma moda recente achar que os portugueses são deprimidos. Podia dar-te varios exemplos, mas vou agarrar num que é muito conhecido de todos, sabes qual é a origem do Fado? o que é o Fado? a onde remonta o Fado em termos temporais? Mais algum pais da europa tens um genero musical destes?
Abraço

Anónimo disse...

A Maria Flomena Mónica já foi companheira de Vasco Pulido Valente e actualmente vive com António Barreto, dois comentadores políticos mais lúcidos de Portugal. Dá para ver o andamento da senhora. Beijinhos Filó! Passas lá em casa logo à noite?! (somos intímos e é assim que eu a trato).
CARLOS REIS

B|g EyE F|sH disse...

e o barreto nao tem ciumes ;)

Sushi Master disse...

Viddy, as origens do fado são um pouco complicadas de precisar. há quem diga que tem séculos, há quem diga nasce de um tipo de música brasileira no séc XIX. Mas se formos a ver, as histórias de melancolia e alguma tristeza estão presentes e quase toda a música tradicional de qualquer país. No fado, essa presença é de facto uma característica singular e que traduz toda a beleza contida no fado.

Mas acredito que o fado seja, como a própria palavra indica, a crença no destino como algo que nos subjuga e ao qual não podemos escapar. Ou o domínio da alma sobre a razão, traduzidos em actos de paixão, tudo traduzido em lamentos com uma crueza violenta. Mas não considero que seja a completa depressão, ou o medo em existir, mas sim algo superior.
No entanto, a fama do fado cresceu muito durante o Estado Novo, foi muito mediatizado. O que pode explicar um pouco a tendência estereotipada - que se tem criado ao longo dos anos - do Portugal sozinho e deprimido...

Atribuo muito mais a culpa deste estereótipo ao Estado Novo do que a qualquer outra altura da história portuguesa.

Anónimo disse...

A explicação mais aceite (mas não definitiva e única), no que diz respeito ao Fado de Lisboa, é de que este teve origem nos cânticos dos Mouros, que permaneceram no bairro da Mouraria, na cidade de Lisboa após a reconquista Cristã. A dolência e a melancolia daqueles cantos, que é tão comum no Fado, estão na base desta explicação.
Na sua génese esteve também uma síntese de géneros musicais, devido a abundante presença de outros povos em Portugal, e à altura de grande popularidade em Lisboa, como por exemplo o lundum e a modinha.
A primeira cantadeira de fado de que se tem conhecimento foi Maria Severa.
VOCÊS SABEM LÁ O QUE É O FADO, CAMANÉ

Anónimo disse...

Está perfeito, correctissimo, vai de encontro ao que tenho lido sobre a matemática.
Para completar o ultimo paragrafo, apenas acrescento que o Fado não é e nem representa a canção nacional. Isso foi o Estado Novo que assim o quis, tal como a musica folclorica portuguesa (musica popular) nao é representada pelos ranchos flocloricos com o barulho de 50 acordeaos a abafar tudo o resto. Mais uma invenção do E.N.
Sabes lá o que é musica popular Rui Carlos, se quiseres saber, ouve as recolhas etnograficas do Giacometti, encontras os cd's em qualquer Fnac, ou na minha casa.
O E.N. é o responsavel pelo facto da minha geração detestar fado e tudo o que diz respeito à musica popular de Portugal. por isso, digo, vóis sois um pouco alienados porque, nao se interessaram por querer conhecer o que está do outro lado do mainstream, tal e qual como vos foi apresentado.
Tenho dito.
Desculpa lá Videira, mas quando me tocam nestes assuntos, eu fico um bocado Isaltino heheheh

viddy disse...

Jorge, admito que tens razão, e o maior ensinamento qeu me deste na tua imensa cultura musical portuguesa, foi: " não se pode falar no Fado, sem falar em Saudade, tal como disseste, não como depressão, ou o medo em existir, mas sim algo superior, numa esperança num futuro maior." Tens toda a razão!!! mea culpa :)

Unknown disse...

Tão bom...
Li todos os comentários com grande gosto.
Pois confesso que desconhecia por completo algumas das informações que deram sobre o "nosso" fado.
Gostei muito sim sr! ;)

Pedro Norte disse...

e sobre o caso Mateus ? Já se sabe alguma coisa?

viddy disse...

Sobre o Caso Mateus, parece que temos problema, parece que ainda não é desta que o sporting consegue fazer mais do que um ponto na liga dos campeões...

roque disse...

O sporting já fez mais de um ponto na liga dos campeões...

roque disse...

mas nessa altura o Benfica ainda não sabia o que isso era...

viddy disse...

Meu amigo Roque, prova, que o sporting já fez mais do que um ponto na Champions League, porque o que estas a dizer é mentira. Nunca passaste do ultimo lugar do teu grupo, e apenas com um ponto. Queres que te recorde a ultima campanha do Benfica, queres que te recorde os ultimos 4 campeões nacionais?? Epá calem-se fiquem um tempinho na vossa toca, a assumir a vossa inferioridade, já que fazem 100 anos é uma boa altura de assumir que em 100 anos de futebol estiveram sempre e estão sempre atrás..Epá ó Jorge desculpa lá, mas eu fico muito Isaltino quando se fala sem saber...