17/01/2006

A arte de amar da burguesia

Andava aqui à procura de um livro na biblioteca, quando dou de caras com um livro que já havia folheado há algum tempo, de um professor meu: "A arte de amar da burguesia: a imagem da mulher e os rituais de galantaria nos meios burgueses do século XIX em Portugal" da autoria de José Machado Pais.
O livro analisa a linguagem do corpo, expressa através dos rituais de galantaria que lhes estavam associados nos meios burgueses do século XIX em Portugal. Para além do significados que advém do corpo (quer em repouso, quer em movimento), são destacados certos objectos que se usavam quotidianamente, nomeadamente o leque no caso das senhoras, e a bengala no caso dos homens, para além dos modos de vestir, aparência, usos e costumes e locais de galanteio em Lisboa na época.
Aqui ficam alguns excertos deste livro escrito de uma forma bastante divertida, sem no entanto fugir ao rigor necessário numa obra científica:

"Outra importante manifestação do atavio feminino nos meios burgueses, durante os sécs. XVIII e XIX, foi o leque, auxiliar de qualquer atitude galante e que, manejando de forma inteligente, incorporava, também, uma espécie de mensagem amorosa. Havia, aliás, um manejo ritualizado do leque com signidicados semiológicos precisos:

"Abrir o leque - Aceitar; sim.
Abrir metade do leque - moderação; silêncio, vêem-nos.
Agitar o leque - Pode vir.
Dar com o leque nos ombros - Continue.
Leque meio fechado - logo.
Agitar o leque devagar - Já tenho.
Agitar o leque depressa - Anda tu, que eu cá estou"

[...]

Qualquer janota prezado levaria, por fim, a sua bengala ou bastão. Continuamente, nos periódicos da época, surgiam anúncios de bastões elegantes, com particularidades interessantes, como as de poderem usar-se como estoques. As bengalas (ou bengaladas) à porta da Brasileira não eram apenas um adorno. Por outro lado - e como os guarda-chuvas quando a chuva apanhava desprevenida alguma dama -, as bengalas eram preciosos instrumentos de conquista. Eram, aliás, o suporte de rituais de conquista assentes numa comunicação não verbal:

"Segurar a bengala pelas extremidades - Amo-te.
Acariciar os lábios com o castão - Mando-te um beijo.
Aproximar a bengala dos olhos - Estou aflito.
Dar-lhe um movimento giratório acentuado - Somos observados.
Meter a bengala debaixo do braço - Espero um sinal teu.
Encostar a bengala ao queixo - Preciso falar-lhe.
Bater com a bengala no chão - Gosto imenso de ti.
Segurar a bengala com o castão virado para o solo - Estou assustado.
Deixar cair a bengala - Tenho aqui uma carta.
Segurar a bengala pelo meio, com a mão esquerda - Espero.
Balançar com a bengala - Tua mãe no andar de cima.
Bater nas calças com a bengala - Desconfiança"
"

(E pronto. Não escrevo mais porque já sei que vou levar com os comentários do costume.)
Sempre tinham mais piada e davam mais cenário que os piropos de hoje em dia!

Mas aqui fica a sugestão de um livro bastante divertido e interessante!

1 comentário:

Sushi Master disse...

Isso não, mas posso transcrever o "Tratado fácil sobre a forma de namorar dentro de uma igreja", que está na página 43.